terça-feira, 24 de novembro de 2009

ANÁLISE DA DISSERTAÇÃO

Depois da análise individual da dissertação de título "O PAPEL DA INTERNET NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO" apresentada por Cidália de Lurdes Pereira Neto, vou tentar responder às seguintes questões:
  • A autora apresenta claramente os objectivos de investigação que presidiram à elaboração do questionário?
  • Na dissertação apresentada há indicação dos passos que estiveram subjacentes à construção do questionário?
  • A amostra é claramente identificada?
  • É indicado o método usado na definição da amostra?
  • O questionário usado foi objecto de validação prévia?
  • No capítulo da explicitação da metodologia usada há indicações sobre o modo de tratamento dos dados obtidos com a aplicação do questionário?


Fica claro a identificação dos objectivos, tanto gerais (pág 13) como específicos (pág. 64), da investigação os quais se traduziram na construção do questionário. Apesar de não estar explícito, em nenhum momento, a indicação dos passos que estiveram subjacentes à construção do questionário parece-me estar implícito que esta teve como base a resposta aos objectivos propostos.

A amostra é claramente identificada na página 65 e são apresentadas as suas escolhas e opções, bem como o método utilizado na definição da amostra, com a identificação dos critérios de selecção.

Em relação aos critérios de selecção achei a sua justificação um pouco superficial e num determinado ponto questionável.
"A escolha destes anos lectivos justifica-se pelo facto de o 8º ano significar a entrada no período da adolescência e possuir características muito próprias relativamente ao sétimo."
Poderemos afirmar que a adolescência se inicia no 8º Ano? E qual a justificação para a escolha do 9º ano?

O questionário em questão foi anteriormente validado (pág. 66) e sofreu algumas alterações.

Quanto ao tratamento de dados é explicitado o uso do Excel (pág. 67) numa perspectiva estatística e os resultados, sempre que possível, são apresentados em percentagens.

Ao analisar os questionários verifica-se a relação entre questões e objectivos propostos, no entanto, fiquei com dúvidas quando, em algumas questões, é dada a hipótese de escolha de mais do que uma opção, através de x, não sendo assim possível determinar o grau de importância dada a cada uma delas.
Algumas questões são colocadas de forma pouco explícita e podem suscitar dúvidas, como a que enumerei anteriormente e a questão 13.

Quanto ao tamanho dos questionários, não me parece que se possam considerar excessivamente grandes já que as questões são de respostas fechadas.

MÉTODO DE RECOLHA DE DADOS POR QUESTIONÁRIO

São vários os métodos de recolha de dados que se podem utilizar numa investigação e cabe ao investigador seleccionar os que respondam melhor aos "objectivos da investigação, do modelo de análise e das características do campo de análise" (Quivy e Campenhoudt, 1995, p. 186).
Na fase de observação será necessário construir os instrumentos de observação que permitam recolher ou produzir a informação. Dependendo do tipo de observação, directa ou indirecta, os instrumentos serão diversificados.
Na observação directa, onde o investigador irá proceder directamente à recolha da informação, será necessário criar um guia de observação onde o investigador registará todos os comportamentos observados.
Na observação indirecta, o investigador conta com terceiros de modo a obter a informação desejada e pode fazê-lo através de questionários ou entrevistas.
Os métodos de recolha de dados podem dividir-se em: (i) Fonte de dados, (ii) entrevistas e (iii) questionários.
As fontes de dados classificam-se por secundárias (estatísticas, bases de dados, indicadores económicos, etc) e primárias (questionários, entrevistas, observação, etc).
Segundo Quivy e Campenhoudt (1995) os questionários consistem num método de colocar questões a um grupo representativo da população. Podem ser "de administração indirecta" quando é o próprio inquiridor a preenche-lo, a partir das respostas dadas pelo inquirido, e "de administração directa" quando preenchido pelo próprio inquirido.
Os questionários podem e sempre que possível, devem ser entregues em mãos, envolvendo assim o inquirido e as razões da sua aplicação bem explicitadas por forma a criar alguma motivação nas pessoas envolvidas, conferindo também alguma seriedade e credibilidade.
Os questionários enviados por via postal são normalmente considerados de pouca confiança pela falta de contacto e motivação. Actualmente os questionários via telefone e Internet são muito usuais.
O método por questionário é aconselhado, segundo Quivy e Campenhoudt (1995), quando se pretende conhecer uma população (modos de vida, costumes, comportamentos, valores e opiniões); analisar um fenómeno social e em todos os casos em que seja necessário questionar um número elevado de pessoas sobre uma dada questão.
As vantagens encontradas neste método prendem-se com a possibilidade de quantificar dados e proceder a relações entre eles, bem como satisfazer a exigência de representatividade do conjunto dos inquiridos. Os limites e os problemas identificados relacionam-se com questões de ordem financeira; a superficialidade das respostas por não permitirem algumas análises; não terem em conta a individualidade dos entrevistados e, quando não são seguidas as regras de construção de questionários ou a escolha da amostragem, a credibilidades dos resultados pode ser posta em causa.
Para a aplicação deste método convém que os investigadores dominem: técnicas de amostragem, de redacção, alguns programas informáticos de gestão e análise de dados de inquéritos e estatística descritiva e análise estatística dos dados.

MÉTODO DE RECOLHA DE DADOS POR ENTREVISTA

Os métodos de entrevista, pelas suas características de proximidade entre entrevistado e investigador, permitem a obtenção de informações e elementos de reflexão muito mais ricos do que com o uso do método por questionário.
O facto da entrevista decorrer frente-a-frente, e a conversa poder ser conduzida e orientada pelo investigador, facilita que o entrevistado exprima percepções, relate acontecimentos e experiências e, que o investigador consiga centrar os seus esforços nas hipóteses de trabalho. Assim, "o conteúdo da entrevista será objecto de uma análise de conteúdo sistemática, destinada a testar as hipóteses de trabalho" (Quivy e Campenhoudt, 1995, p. 192)
Existem vários tipos de entrevistas:
A entrevista semidirectiva, ou semidirigida, normalmente a mais utilizada na investigação social, é orientada por perguntas-guias, relativamente abertas, sobre as quais o investigador tenta receber uma informação por parte do entrevistado. As perguntas-guias são colocadas pela ordem que a conversa, entre ambos, encaminhar. Este tipo de entrevista é mais uma conversa moderada pelo entrevistador.
A entrevista centrada (focused interview) é mais utilizada quando o objectivo se prende em analisar o impacto de um acontecimento ou de uma experiência vivenciada ou assistida pelo entrevistado. O entrevistador tem uma lista de tópicos precisos relativos ao tema em estudo e no decorrer da entrevista vai abordando-os da forma como se desenrolarem ao longo da conversa.
Se por outro lado o objectivo for a análise de histórias de vidas utiliza-se um método de entrevistas extremamente aprofundado e pormenorizado, aplicado a poucos interlocutores, sendo assim, estas muito mais longas e divididas em várias sessões.
Segundo Quivy e Campenhoudt as entrevistas são adequadas para objectivos:
A análise do sentido que os actores dão às suas práticas e aos acontecimentos com os quais se vêem confrontados;
A análise de um problema específico;
A reconstituição de um processo de acção, de experiências ou de acontecimentos do passado.

A entrevista, segundo Quivy e Campenhoudt (1995), tem como principais vantagens o grau de profundidade que se consegue obter dos elementos em análise e a flexibilidade e a fraca directividade do dispositivo que permite recolher os testemunhos e as interpretações dos interlocutores.
Por outro lado, esta flexibilidade também é considerada uma desvantagem, pois pode intimidar todos os que não conseguirem trabalhar sem directivas técnicas precisas.
Também é apontada pelos referidos autores, como desvantagem para o uso das entrevistas o facto de, contrariamente ao método por questionário, as informações recolhidas não se apresentarem prontas para efectuar análises particulares. Deste modo, os métodos de recolha e de análise das informações devem ser construídos conjuntamente.
Outra limitação detectada na aplicação de entrevistas, e ainda ligada à sua flexibilidade enquanto método, é o facto de se poder acreditar numa completa espontaneidade do entrevistado e numa total neutralidade do investigador.
Em investigação social a utilização do método por entrevistas está sempre ligada ao método de análise de conteúdo.
Para aplicar o método, o investigador deve estar apto para retirar o máximo de elementos interessantes da entrevista, valendo-se da sua formação teórica e lucidez epistemológica, mais concretamente, do conhecimento teórico e prático elementar dos processos de comunicação e de interacção interindividual, e formação prática nas técnicas de entrevista.

Existem vários tipos de entrevistas: não estruturadas, estruturadas; face a face e telefónicas.
As entrevistas face a face ou directas têm como vantagens poder-se alterar, adaptar ou adoptar as questões consoante o caminho que a "conversa" levar; conseguir percepcionar-se algumas pistas não verbais e poder-se clarificar duvidas que poderão surgir. No entanto, é um método caro, com limitações geográficas, que necessita de alguns cuidados em termos de fiabilidade, ou seja, o investigador tem de conseguir um certo distanciamento e nunca fazer juízos de valor, que podem constranger o entrevistado e alterar os resultados, para além de ser um método em que a confidencialidade é muito dificilmente assegurada.
As entrevistas telefónicas têm como vantagens evitarem algum desconforto que pode existir nas entrevistas face a face e conseguir-se efectuar um elevado número de chamadas por dia. Porém, nas entrevistas telefónicas os entrevistados tendem a dar respostas mais curtas ou simplesmente desligar a chamada e não responder.
As entrevistas não estruturadas podem ser úteis numa fase exploratória, ajudam a desenvolver melhor os quadros teóricos e a desenvolver melhor questionários e entrevistas estruturadas. Enquanto que as entrevistas estruturadas poupam tempo e contribuem para codificar a informação.

Ao optar-se por o método por entrevista e antes de construir um guião de entrevista é necessário:

  • decidir o que se pretende;
  • questionar o que é necessário, se o método será a melhor forma de recolher a informação pretendida;
  • delinear um esquema de questões;
  • escolher o tipo de entrevista;
  • refinar as questões;
  • considerar posterior análise das respostas.

Depois do guião elaborado será aconselhável:

  • testar o esquema e revê-lo se necessário;
  • evitar parcialidade;
  • seleccionar os entrevistados;
  • marcar as entrevistas;
  • requerer autorizações hierárquicas;

Ao realizar a entrevista o investigador deve:

  • indicar claramente o objectivo da entrevista;
  • controlar e tentar manter o tempo previsto para a sua duração;
  • verificar exactidão de dados com o entrevistado;
  • requerer autorização caso opte por gravação de voz e/ou vídeo;
  • ser honesto e usar de bom-senso

Fontes:

BELL, J. Como Realizar um Projecto de Investigação. Lisboa: Gradiva, 1997

QUIVY, Raymond ; VAN CAMPENHOUDT, Luc — Manual de Investigação em Ciências Sociais. Lisboa: Gradiva, 2008

http://www.uac.pt/~jpedro/medoogia_investigacao/200809/cap6.ppt (consultado Novembro 2009)

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

PLANEAR UMA INVESTIGAÇÃO

Exercício proposto:
Suponham que estavam na fase de elaborar um projecto de investigação. Esse projecto de investigação teria de ser apresentado à coordenação do mestrado e a um possível orientador. Suponham ainda que cada um procurava, antes de proceder à entrega do projecto, pedir a outro colega para analisar o projecto e avaliar até que ponto esse projecto daria origem a uma investigação exequível, com sucesso e cujos resultados viriam acrescentar algo à investigação já produzida na área.
Suponham também que a esse projecto faltava um (ou mais) dos passos a seguir enunciados. Que consequências poderiam advir?
1. a formulação do problema de investigação?
2. a revisão da literatura (estado da arte à volta da problemática em que se insere o problema)?
3. a assunção de qual o paradigma dominante em que se inseria a investigação?
4. a explicitação dos objectivos da investigação? ou a especificação das hipóteses de investigação? (tendo em conta o ponto anterior)
5. a explicitação dos métodos de investigação?
6. a caracterização da amostra ou do caso a estudar?
O que diriam ao colega?
1. A formulação do problema de investigação?


Sendo a pergunta de partida a base de qualquer investigação não seria possível iniciar um processo investigativo sem esta parte, pois o sucesso de uma investigação parte da escolha de um primeiro fio condutor que nos vai permitir estruturarmo-nos com coerência.

2. a revisão da literatura (estado da arte à volta da problemática em que se insere o problema)?

" Todo o trabalho de investigação se inscreve num continuum e pode ser situado dentro de, ou em relação a, correntes de pensamento que o precedem e influenciam" (Quivy e Campenhoudt, 1995, p. 50).
Não nos podemos cingir aos nossos conhecimentos, seria muito presunçoso acreditarmos que conseguiríamos levar a cabo uma investigação sem outras referências reconhecidas.

3. a assunção de qual o paradigma dominante em que se inseria a investigação?

O paradigma, como um conjunto de verdades, conceitos e teorias, servem para orientar o pensamento e a investigação. São o modo como entendemos o mundo. Assim sendo, mesmo inconscientemente, seguimos uma orientação teórica na investigação.

4. a explicitação dos objectivos da investigação? ou a especificação das hipóteses de investigação? (tendo em conta o ponto anterior)

Tendo a orientação teórica definida, será necessário explicitar/definir tanto os objectivos como as hipóteses da investigação, criando assim um caminho de trabalho. O que queremos compreender e como o vamos fazer????
As hipóteses vão traduzir o espírito de descoberta, que caracteriza qualquer trabalho científico.
" O trabalho empírico não se limita, portanto, a constituir uma análise do real a partir de um modelo de análise; fornece ao mesmo tempo o meio de o corrigir, de o matizar e de decidir, por fim, se convém aprofundá-lo no futuro, ou se, pelo contrário, vale mais renunciar a ele" (Quivy e Campenhoudt, 1995, p. 120).

5. a explicitação dos métodos de investigação?

É essencial definir que métodos iremos utilizar durante a investigação e escolhermos os mais adequados.
Será necessário, depois de constituir as hipóteses e os conceitos, proceder à observação testando assim, os factos.
Para a observação temos de colocar três questões: observar o quê? em quem? como?
Para que possamos recolher informações que traduzam o conceito e nos permitam verificar as hipóteses teremos de utilizar instrumentos e métodos de recolha de informações. Os métodos são variados, entre, entrevistas, inquéritos, observação directa ou indirecta, etc, sendo os mais adequados os que nos permitirão responder às questões colocadas.

6. a caracterização da amostra ou do caso a estudar?
Depois de identificar os dados que deverão ser recolhidos e o instrumento a utilizar para essa recolha, o passo seguinte consiste em defiir um processo de amostragem adequado.
No processo de recolha de dados é necessário desenvolver um processo sistemático que assegure a fiabilidade e comparabilidade desses dados. O plano de amostragem deverá começar por determinar qual o nível de extensão geográfica em que o processo de amostragem deverá ser conduzido (mundial, nacional, regional, urbano, rural, grupo de indivíduos, etc.).
A construção da amostra envolve várias etapas igualmente importantes: (i) A identificação da população alvo; (ii) O método de selecção da amostra; (iii) A dimensão da amostra.
A caracterização da amostra é importante para se contextualizar o estudo.