terça-feira, 27 de outubro de 2009

PARADIGMAS DA INVESTIGAÇÃO EM EDUCAÇÃO

No Séc. XIX o Positivismo tornou-se no modelo único e global, onde conhecer significava quantificar, ou seja, tudo o que não fosse quantificável passava a ser irrelevante.

Grande parte das investigações em Educação pautaram-se por este modelo, e trouxeram avanços significativos na forma como encaramos o ensino, a aprendizagem e a educação mas tornou-se muito limitativa, principalmente quando os investigadores se começaram a interessar pela forma do pensamento cognitivo. Havia a necessidade de recorrer à observação, de submeter os sujeitos a entrevistas e de registar as suas formas de pensamento.

As análises de Kuhl (1970) foram responsáveis pela mudança de paradigma por o anterior se mostrar incapaz de resolver ou responder a problemas que se iam colocando. Apareceu assim a investigação qualitativa (também conhecida como interpretativa), dando mais importância aos pormenores descritivos.

No paradigma qualitativo são consideradas várias interpretações da realidade, consoante o número de investigadores que a interpretam.

Os modelos utilizados entre os dois métodos de investigação, quantitativa e qualitativa, também diferem. Pode-se afirmar que o objectivo primordial da investigação quantitativa é generalizar os dados obtidos a toda a população e para isso, utiliza métodos estatísticos. Na investigação qualitativa recorre-se mais à participação observante e à entrevista em profundidade.

Tentando aprofundar as formas de pesquisa qualitativa, Godoy (1995) identifica três diferentes possibilidades de abordagem:

  1. a pesquisa documental, com a análise de materiais ainda não tratados analiticamente ou reexaminados com o intuito de uma nova interpretação. Esta abordagem é muito utilizada quando se pretende estudar pessoas a que não temos acesso físico, ou por estarem distantes ou terem morrido;
  2. o estudo de caso, onde se faz uma análise aprofundada de uma unidade de estudo visando o exame detalhado de um ambiente, de um sujeito ou de uma situação em particular;
  3. a etnografia, oriunda da Antropologia tem-se destacado como uma das mais importantes abordagens. Este método envolve o contacto directo do investigador, utilizando técnicas de observação, participação nas actividades e contacto directo com o objecto de estudo.

Muitos teóricos e investigadores consideram que a combinação entre os métodos quantitativo e qualitativo, numa investigação, são uma mais valia. Para Duffy (1987) os benefícios traduzem-se na possibilidade de:

  1. complementar controle dos desvios (quantitativa) com compreensão da perspectiva dos agentes envolvidos no fenómeno (qualitativa);
  2. juntar identificação de variáveis específicas (quantitativa) com uma visão global do fenómeno (qualitativa);
  3. completar um conjunto de factos e causas associados à metodologia quantitativa com uma visão de natureza dinâmica da realidade;
  4. enriquecer constatações obtidas sob condições controladas com dados obtidos dentro do contexto natural da sua ocorrência;
  5. reafirmar a validade e confiabilidade das descobertas pelo emprego de técnicas diferenciadas.

Na investigação contemporânea em educação não se colocou de parte nenhum destes paradigmas, no entanto, cada vez mais é utilizada a investigação qualitativa que segundo Bogdan (1994) se caracteriza por cinco pontos: (i) a fonte directa de dados é o ambiente natural, constituindo o investigador o instrumento principal; (ii) é descritiva; (iii) os investigadores interessam-se mais pelo processo do que simplesmente pelos resultados ou produtos; (iv) os investigadores tendem a analisar os seus dados de forma indutiva e (v) o significado é de importância vital na abordagem qualitativa.


O terceiro paradigma é o Sócio-crítico, que segundo Bravo (1998) se baseia-se nos seguintes pressupostos: (i) nem a ciência nem os procedimentos metodológicos empregues são “assépticos” puros e objectivos. A investigação constrói-se a partir das necessidades naturais da espécie humana e depende das condições históricas e sociais. A ciência é apenas um tipo de conhecimento entre outros; (ii) o tipo de explicação da realidade que oferece a ciência não é objectiva nem neutral. De acordo com as teorias do conhecimento de Habermas o conhecimento humano possui três interesses: técnico, prático e emancipatório; (iii) é a ideologia que possibilita a compreensão do real de cada indivíduo, descobrindo os seus verdadeiros interesses. A emancipação realiza-se nos aspectos libidinal, institucional e ambiental.

BOGDAN, R., BIKLEN, S. (1994) – Investigação Qualitativa em Educação. Colecção Ciências da Educação. Porto: Porto Editora, 1994.
BRAVO, C.; EISMAN, B. (1998) – Investigación Educativa. 3ª Ed. Sevilha: Ediciones Alfar, 1998.
DUFFY, Mary E., Methodological triangulation: a vehicle for merging quantitative and qualitative research methods, In Journal of Nursing scholarship, 19(3), 1987, p. 130-133
GODOY, Arilda S., Pesquisa qualitativa - tipos fundamentais, In revista de Administração de Empresas, v. 35, n. 3, Mai/Jun. 1995, p. 20-29
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414-32831997000200004&script=sci_arttext&tlng=pt (acedido em 20/10/09)
http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/ichagas/mi2/Fernandes.pdf (acedido em 22/10/09)

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